Verdades que estão além da religião.

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Ultimamente tenho pensado muito em questões que costumava ignorar quando era um “evangelista”. Até que ponto as palavras de Jesus, encontradas no Evangelho segundo Mateus, tem sido praticadas?

"Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me...Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes."

São questões como essa que tem me feito expandir meus pensamentos, e chegar a conclusão de que há verdades que estão muito além de qualquer religião. Passarei a descrever, de forma pluralista, o que, para mim, são verdades axiomáticas que merecem muito mais atenção de todos nós, do que a atenção que temos dado a nossos conceitos teológicos.

É impossível começarmos uma apresentação sobre verdades que estão além da religião sem a tão famosa ‘regra de ouro’. Entende-se como regra de ouro, o conceito ético da reciprocidade. De longe, esse é um dos únicos se não o único conceito que várias religiões têm em comum. Não tenho o menor interesse em saber qual foi à primeira religião que realmente teve esse conceito como original, e se o mesmo foi apenas repetido por grandes sábios. Antes, importa saber o quanto esta regra pode influenciar nossas vidas e o mundo.

No confucionismo a regra de ouro é proveniente do conceito Jen. Segundo o sistema ético elaborado pelo sábio Confúcio, o conceito Jen abarca a idéia de humanidade, bondade, benevolência ou as qualidades do homem para com o homem. Encontramos mos Analectos o seguinte trecho:

Tzu-Kung perguntou: “Há uma única palavra que pode ser um guia de conduta ao longo da vida de uma pessoa?”. O mestre disse: “Talvez a palavra ‘Shu’. Não imponha aos outros o que você não deseja para si mesmo”. Confúcio. Os Analectos, XV, 24.

Encontramos o mesmo princípio de Confúcio nas obras Budista e Hinduísta:

Não atormentes o próximo com o que te aflige - Udana-Varga 5:18

Esta é a suma do dever: não faças aos outros aquilo que se a ti for feito, te causará dor - Mahabharata (5:15:17)

Biblicamente, podemos encontrar esse conceito implicito no livro de Leviticos, na forma de 5 mandamentos, como bem comenta o Rábi Holffmann em seu comentário “O Livro Levítico”:

1 - Não odeies o teu irmão no teu coração!
2 - Pede explicações ao teu próximo!
3 - Não te vingues!
4 - Não guardes rancor contra ele!
5 - Ama o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18).

Ainda no judaísmo, podemos citar um trecho do Talmude Babilônico no qual o sábio Hillel se utiliza da regra de ouro em sua didática:

“Aconteceu um dia que um não-judeu chegou ao grande rabino Shammai e lhe disse: Faz-me prosélito (convertido [ao Judaísmo]) sob a condição de que me ensines a Toráh inteira, durante fico parado em um pé só. Esse o empurrou com o bastão que tinha na mão. A seguir veio a Hillel, e este o fez prosélito e lhe disse: O que tu não estimas [que te façam], isso também não faças ao teu próximo. Isso é toda a Tora, e todo o restante não é senão explicação: vai e a aprende!” (Talmude Babilônico, Sabbat 31ª).

Ainda em harmonia com a regra de ouro, cito o nobilíssimo Ghandi, que em seu elevado sentido de humanidade expôs ao mundo como a lei do talhão(olho por olho e dente por dente), encontrada até mesmo na bíblia, é nociva ao mundo:

“Olho por olho e o mundo terminará cego”

Com tudo que foi exposto até aqui, poderíamos com certeza deduzir que se o que a valiosa regra de outro ensina fosse praticado por todos os homens, teríamos um mundo muito melhor. Porém, os ensinos expostos até então, tratam de mandamentos negativos. Em toda sua sabedoria, Ghandi, Zoroastro, Hillel, Confúcio e tantos outros aplicaram seus ensinamentos acerca da regra de ouro, na forma de recomendar o que não devemos fazer aos nossos próximos. Por mais que o fato de deixarmos de fazer algo nocivo a alguém, já caracterize uma forma de ação, a forma de negação da regra de ouro expressa até aqui, nos faz sermos meros coadjuvantes, já que deixando de fazer algo, não poderíamos nos julgar como agentes ativos de uma transformação, tal qual o mundo necessita.

Mas temos ainda mais homem, que deu sua contribuição com relação a regra de ouro. Em seu famoso sermão da montanha encontramos o carpinteiro de Nazaré expondo sua visão acerca da regra de ouro:

“Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós, porque esta é a lei e os profetas.” Mt 7:12

Assim como os outros sábios anteriormente citados, aqui, Jesus se utilizou da regra de ouro em seus ensinamentos, porém, encontramos em suas palavras uma forma muito elevada da regra. Jesus vai além do que propõem os outros sábios. Para ele, não é apenas uma questão de que não façamos o que não queremos que nos façam. Antes, Jesus vê a necessidade de uma ação da parte do homem. Aquilo que queremos que nos façam, é justamente o que devemos fazer ao nosso próximo! Pela ótica de Jesus, nós não devemos apenas evitar fazer coisas ruins aos outros, mas antes buscar oportunidades para ativamente fazer o bem.

Temos então, com a contribuição de Jesus, um conceito magnífico que permite que sejamos agentes de uma transformação. É triste, porém, constatar que aqueles que se intitulam seus seguidores, inclusive eu, estão tão abaixo da meta estabelecida por ele.

Espero que a regra de ouro da forma ensinada por todos os grandes sábios e lideres religiosos citados, nesse texto, possa ser significativa para nossas vidas, pois sem dúvida essa é uma verdade que está muito além de qualquer religião.

Anderson L Santos Costa

2 comentários:

MARCELO DALLA disse...

Olá rapaz! Muito bacana um jovem como vc com todas essas questões, essa busca, essa curiosidade maravilhosa. Fico sempre feliz em conhecer gente assim. Está estabelecida a conexão, voltarei mais vezes. abraço e luz!

Anderson L. disse...

Olá Marcelo! É um prazer receber sua visita. Volte sim, será sempre bem vinda a sua visita.

Paz e bem!

 

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