O ladrão veio para matar roubar e destruir. E o Diabo? (3ª Parte)

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Vimos na última postagem, como pensa o Dr. Severino Celestino, com relação a figura de satanás, crendo ele que o mesmo não é um personagem original dos relatos bíblicos, mas sim um ser inserido na teologia judaica após o contato com o zoroastrismo persa.
Biblicamente, penso que essa é uma interpretação inconsistente, pois a bíblia seguramente aponta satanás como um ser pessoal. Mas de certa forma, concordo com o Dr Severino com relação a influência do Zoroastrismo na figura de Satanás. A teologia cristã, como temos hoje, sem dúvida alguma assimilou muito da idéia do Ahura-Mazda’ sofrendo a oposição do ‘Angra Mainyu, ou Ahriman’, ‘o espírito mau. A crença cristã entende Satanás como um anjo rebelde, o ex-ministro de louvor do céu (risos), chamado Lúcifer, extremamente poderoso, que se rebelou contra Deus, por querer ser maior que o Altíssimo, e até hoje vive como opositor das “coisas celestiais”. Esse é um assunto praticamente, indiscutível no meio cristão, tendo um número quase irrisório de pessoas que contestam essa idéia. Então, já que é assim, que tal fazermos parte desse número irrisório?
Vamos então analisar os textos dos quais é extraída essa teologia.

Is 14:12-15
“Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo.”

A primeira coisa importante sobre esse texto é que é dele que o nome Lúcifer é extraído. A palavra Hebraica é ‘helel’ que significa apenas “estrela da manhã”, não tendo qualquer ligação com Satanás. Lúcifer provém do latim, significando “aquele que leva a luz”, ou “portador da luz”.
O segundo ponto de destaque é que essa expressão foi traduzida como um nome pessoal, o famoso Lúcifer, pela primeira vez por Jerônimo, em sua tradução da bíblia para o latim, a chamada Vulgata Latina. É interessante saber que São Lúcifer era o nome de uma personalidade católica com quem Jerônimo se desentendeu, o que obviamente não interfere em nada, pois Jerônimo não teria uma atitude de má fé como essa não é? rsrsrs

Agora independente dos fatos citados acima o importante, a saber, é, em que lugar desse texto está satanás? Duas perguntas cruciais são:

O contexto precedente está falando sobre quem, ou o que?
O contexto procedente está falando sobre quem, ou o que?


Respondendo a essas duas perguntas podemos então responder em que lugar do texto está Satanás. Em nenhum! Como vemos no contexto precedente, no verso 4, o texto é destinado ao rei da babilônia:

“Então proferirás este provérbio contra o rei de Babilônia, e dirás: Como já cessou o opressor, como já cessou a cidade dourada!”

E nos versos de 16-17 vemos como a seqüência lógica se mantém sobre o rei da Babilônia:

"É este o homem que fazia a terra tremer, que sacudia reinos, que fazia do mundo um deserto, derrubava suas cidades, que não permitia aos seus prisioneiros voltar para casa?"

É simplesmente uma agressão ao sentido comum do texto, inserir a figura de Satanás no mesmo, como se Isaias estivesse abruptamente interrompendo a profecia contra o rei da babilônia, para fazer uma descrição da queda de Satanás. O texto trata simplesmente da queda do rei da Babilônia, e nada, além disso. Como podemos ver, esse é mais um texto em que Satanás foi ‘inserido’ de forma incorreta, por interpretações errôneas, e, portanto mais um dos quais precisamos tirá-lo para podermos realmente compreender quem é Satanás.

Vejamos o próximo texto.

Ez. 28: 12-19
“Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.”

Eis, outro texto com destinatário declarado, o rei de Tiro, porém com linguagem alegórica que traz palavras como “Édem”, “querubim” e “lugares altos”, o que levou os teólogos a desenvolverem a interpretação na qual, essa é a referência ao regente de louvor do céu, que se rebelou contra Deus. Porém, esquecem de uma dificuldade clara os que assim interpretam. A referência ao Édem, entendida de forma literal pelos que vem Satanás nesse texto é contraditória com tal pensamento, pois como se esquecem, no Édem a serpente já era adversária do homem, o que não condiz com esse texto, que liga a figura do querubim, ainda perfeito, ao Édem.

Analisando o contexto, nos versos de 1 a 10 temos o príncipe de Tiro sendo apresentado como “homem, e não Deus”, sendo mais sábio que Daniel, e com isso desejando ser igual a Deus. Tendo tamanha sabedoria, proveniente de Deus, o rei de Tiro é descrito como um querubim ungido, estabelecido por Deus em seu monte santo, mas que devido a esse desejo de usurpação de Deus, que cresceu em seu coração, receberá julgamento severo da parte de Deus.

Mais uma vez, em meio a uma linguagem alegórica, e com certo tom de sarcasmo, demonstrando a loucura de homens que se imaginavam iguais a Deus, vemos que Satanás passa longe do texto, sendo que somente os que já têm uma teologia pré-determinada em suas mentes conseguem visualizar um anjo se rebelando contra o Altíssimo.

Ap. 12:7-9
“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos; Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.”

Esse é outro texto que será utilizado no afam de tentar “provar” que houve uma queda de Satanás do céu, porém sem mesmo lembrar a dificuldade de se interpretar o livro de Apocalipse devido as suas várias formas literárias presentes, uma simples lembrança de que cronologicamente a “batalha” de Apocalipse 12: 7-9 ocorre após o nascimento de Jesus, já torna o texto incongruente com a teologia da tal queda de Satanás no início dos tempos.

Lucas 10:18
“E disse-lhes [Jesus]: Eu via Satanás, como raio, cair do céu”

O contexto anterior a essa passagem nos mostram que a declaração de Jesus indica o enfraquecimento do poder de Satanás, que está sendo executado com a expansão do reino de Deus. No verso 17, parte B, vemos os discípulos voltando de sua missão, dizendo:

“... Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam”

E em resposta a tal afirmação, o Senhor Jesus, afirma que “via Satanás, como raio, cair do céu”. A idéia de queda denota a perda de poder, e é justamente a isso que Jesus está se referindo. Como prova disso, ele explica aos discípulos no versículo seguinte o porquê dos demônios se sujeitarem pelo nome do Senhor:

“Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo, e nada absolutamente vos causará dano"

Podemos ver, então, que mantendo a expressão em seu contexto, não há qualquer sentido em transferi-la para um tempo passado, ligando aos outros textos já citados, de forma a desenhar uma teologia da “queda de Lúcifer”.

Estes são os textos base, para a idéia de um anjo rebelde, que fora querubim de Deus, regente de seu coral celestial, mas que desde que desejou ser igual a Deus, e se assentar em seu trono, está em oposição ao reino celeste.
Mas, se Satanás não é um anjo que se rebelou contra Deus, quem ele é afinal?

Essa é uma pergunta que tentaremos responder na próxima postagem. O objetivo inicial dessa série de postagens era que durassem por, apenas, 3 postagens, porém senti a necessidade de apresentar certos pontos sobre o que se pensa sobre os demônios hoje, retirando Satanás de onde ele não foi pensado, a fim de que fosse mais compreensível quem o Diabo realmente é!

Na próxima postagem então concluiremos apresentando uma nova forma de pensar em quem é Satanás, e qual seu papel no plano de Deus, e em nossas vidas.

Anderson L Santos Costa

4 comentários:

José Junior disse...

Muito Interessante...

wallan disse...

Muito massa Boy..
se puder depois fazer um estudo(se já não tiver feito)sobre as tentações de cristo,no deserto!

Coitado do satã..hehehehehhe
zuera

Anderson L. disse...

Que tipo de estudo cara?

Comentarei brevemente sobre a tentação, no próximo post desse tema!

wallan disse...

estudo sobre as tentações boy...

e acho meio "vago"isso isso dos 40 dias no deserto!

 

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