
Em todas as religiões notamos que independente de suas variações os deuses possuem um desejo frenético de receber adoração de suas criações. O deus cristão é tão fissurado pelo sentimento de ser adorado, que em seu céu todos os seus escolhidos viverão somente para adorá-lo.
Vemos no deus hebreu, uma figura inclemente que não suporta ter "sua glória" dividida com ninguém. Ao ver pessoas adorando o nada(já que o mesmo afirma que somente ele é deus e os outros são obras de mãos humanas), ele não se contém e utiliza de todas as formas possíveis para matar os povos que adoram outros deuses, fazendo com que seu "povo escolhido" cometa todo tipo de chacina e execução, de bebês a anciãos das nações pagãs, que adoram outros deuses.
O deus islâmico declarou “guerra santa” a todas as nações que não o servem. Talvez esse seja o deus que comumente mais se crítica devido a sua forma autoritária de exigir adoração a si, e de querer o fim de seus inimigos. Porém, esquece-se que grande parte da culpa de tal guerra é dos “cristãos” que durante as cruzadas desejaram “converter” os muçulmanos ao cristianismo através de força e autoritarismo. Digamos que a diferença é que os seguidores de Alá praticam hoje o que os seguidores de Jesus e de Javé praticaram no passado.
Os deuses determinam que a justiça está ligada aos que os adoram. Quem não adora a seu criador é injusto, independente do que faça. Se você não adora o deus criador, suas obras, para ele, tornam-se trapos.
Estive então refletindo nos últimos dias. O desejo de ser adorado é uma característica humana ou divina?
Sabemos que não importa como, gostamos de ser elogiados, cortejados e termos nossos egos massageados. Nada é melhor do que notar que alguém nos admira, ainda que isso seja comparado ao que entendemos por adoração. Podemos ver isso no famoso personagem bíblico Daniel. Futuramente Daniel se negaria a deixar de se prostrar a Javé, reconhecendo o mesmo como seu Deus, porém quando o rei Nabucodonosor prostrou-se para adorá-lo, o mesmo não fez qualquer ressalva, recebendo assim a adoração do rei de bom agrado:
“Então o rei Nabucodonosor caiu sobre a sua face, e adorou a Daniel, e ordenou que lhe oferecessem uma oblação e perfumes suaves.” Daniel 2:46
Não vejo esse fato como motivo para considerar Daniel como injusto, ou como adorador de deuses estranhos. Antes percebo como o desejo de ser adorado, ainda que errado, é uma característica humana.
Os grandes lideres, sejam militares, religiosos ou políticos possuem tremenda sede pelo poder justamente pelo desejo de se sentirem como deuses, que são aclamados e adorados por todos os que os admiram. Vemos o profeta Ezequiel reprimindo esse desejo no príncipe de Tiro:
“Filho do homem, dize ao príncipe de Tiro: Assim diz o Senhor DEUS: Porquanto o teu coração se elevou e disseste: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no meio dos mares; e não passas de homem, e não és Deus, ainda que estimas o teu coração como se fora o coração de Deus;” Ezequiel 28:2
Portanto duas possibilidades habitam meus pensamentos:
Se o desejo de ser adorado é uma herança que o homem recebeu de seu criador, então o homem que deseja ser tratado como deus, sendo adorado e servido, não está pecando, mas sim sendo igual a seu criador.
Ou então,
Se o desejo de ser adorado é uma característica do egoísmo humano, os deuses, incluindo o cristão, possuem centralizados em seu ser uma característica humana, e isso é um enorme indício de que John Shelby Spong está correto ao afirmar que “a definição teística de Deus é criação humana”.
Portanto, seriam os homens uma criação divina ou seriam os deuses uma criação humana?
Essa é uma pergunta que assombra a muitos, mas que desejo começar a tratar. Afinal, não se pode fazer theóslogia sem tratar das questões que envolvem o caráter do Deus que conhecemos.
Anderson L. Santos Costa
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